Acordei cedo, depois de uma noite mal dormida. Tomei banho, vesti-me e arranjei-me. Nada de especial, numas horas estaria em casa.
Procurei um caderno, onde pudesse escrever o que sentia. Comecei a escrever, numa espécie de rascunho. Mas, depois parei: Para que escrever em rascunho, se esta é uma carta de despedida? - pensei eu.
Parei de escrever no caderno e peguei em algumas folhas guardadas numa capa e assim a recomecei, escrevendo apenas o que sentia, sem me preocupar com a apresentação ou organização...
Escrevi tudo o que sentia, o que me vinha à alma, o que o meu coração mandava e aos quais as minhas mãos obedeciam.
Nem uma lágrima deita. Noutras alturas, sempre que de ti falava as lágrimas depressa corriam e as palavras que o meu coração ditava não chegavam ao fim. Desta vez foi diferente... Apesar de sentir me sentir triste, terminei a minha carta, aquela que eu já deveria ter escrito à muito tempo.
Comi apressadamente. Queria despedir-me de ti antes que começa-se a chover. Não queria perder a coragem, como outras alturas acontecera.
Liguei o MP3, entrei no elevador e apanhei o autocarro que me levaria para junto do Rio. Será que isto me vai ajudar a esquecer-te e a escrever uma nova página na minha vida? - pensará eu ao longo do percurso.
Cheguei à paragem e pensei em desistir: De que me valeria deitar uma carta ao Rio?. Contudo, sentia que era o melhor que poderia fazer; de nada poderia servir, era apenas uma simbólica despedida a um amor que nunca existiu mas, talvez ajuda-se.
Uma leve chuva comecou a cair e a minha dor de cabeça novamente regressou quando me apróximava do local.
Escolhi um local isolado, junto aos patos que por ali andam, e onde dobrei em vários papéis a carta... e atirei-a ao Rio. Fiquei a olha-la um pouco, muito pouco tempo, talvez segundo. Não por causa da chuva, mas porque me sentia demasiado triste para ficar ali.
Já algo distânte, olhei de novo para o local, olhei para o rio e para a cidade.
Não posso continuar a viver do passado, esperando que ele traga quem eu sempre quis ou, quiçá, alguém semelhante... Não posso continuar a viver pensando no que poderia ter sido se eu tivesse tido a coragem, a força de por ti ter lutado... Simplesmente não posso continuar a sofrer... Quero parar de me lamentar...
E tal como tu, quero seguir a minha vida e encontrar alguém, alguém a quem possa ofercer o que tu não quissestes, alguém a quem possa dizer palavras doces, com quem possa olhar as estrelas, onde possa partilhar os meus problemas, as dúvidas, os receios, as alegrias, vitórias... Queria que, simplesmente, tivesses sido o meu primeiro namorado.
R., guardarei os bonitos episódios que vivemos, lembrar-me-ei de ti não como alguém que me fez sofrer, mas sim como um bom colega de turma e um excelente amigo.
Lançada a carta ao Rio, quiçá uma nova página escreva na minha vida... Porque eu só quero ser feliz!
Nunca digas que esquecestes um grande amor. Diz apenas que já podes dizer o seu nome sem que os teus olhos se encham de lágrimas.
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