Sou como essa menina. Sinto-me como ela. Como a menina do meu cabeçalho. Revi-me naquela figura triste traçada a azul e castanho. Sensação estranha.
Um dia, numa aula de Francês (estando eu, talvez, no oitavo ano) a professora afirmara conhece-nos a todos muito bem. O riso foi geral. Para demonstra-lo, descreveu-nos a cada um de nós. E acertava. Quando chegou a minha vez disse, sem mais acresentar:
Tu tens duas caras. És uma coisa aqui e lá fora, longe de nós és outra.
Porém, ninguém compreendeu o que ela quis dizer sobre mim...
A caminho de casa, olhando as imagens reflectidas na janela do comboio que, apressadamente, corriam pensei naquela frase que me marcou. Naquela altura disfarçava a tristeza intercalados com a alegria e o silêncio. Em casa era alegre, mas escola era triste e calada... Poucos ou, mesmo ninguém, sabia o que se passava comigo naquele Colégio.
Passaram anos. Cresci, mudei, aprendi... Mas as máscaras não mudaram. A vida ensinou-me outras técnicas de disfarçe.
Diariamente escondo a tristeza, os medos, os problemas, os receios. Tento evitar que percebam, apesar de nem sempre acontece. E mesmo quando estou alegre, contente e aparentemente feliz sinto-me triste. Nestas alturas recuo aos velhos tempos de Colégio e utilizo a máscara do silêncio.
Não quero ser a coitadinha, não quero que tenham pena, não quero frase que já sei de cor, não quero que me chamem de egoísta... Sobretudo, não quero falar sobre algo que não compreenderam...
Sinto-me como essa menina de azul e castanho, com uma dupla face que ora mostram uma Maria feliz, ora uma Maria triste.
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