"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar,
morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoínho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante...
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade."
(Pablo Neruda)
É isto que sinto, a morrer lentamente...
Porque não encontro graça em mim.
Porque não consigo pedir ajuda.
Porque repito hábitos, trajectos.
Porque não arrisco vestir uma nova cor.
Porque evito paixões.
Porque não viro a mesa.
Porque não me permito fugir aos conselhos sensatos.
Porque não foi capaz de seguir os sonhos que o meu coração desejava...
A Barbie faz hoje 50 anos. Graças ao seu aniversário recordei os meus tempos de menina, em que a inocência e a imaginação fazia parte do meu quotidiano.
Relembrei as horas passadas, trancada no quarto, revirando-o de "pernas para o ar". Transformava o meu quarto num mundo de imaginação.
A cama fazia de casa de bonecas, a casa que nunca tive. As almofadas eram as camas, enormes camas de casais. As poucas Barbies que tinha eram tratadas com o maior dos carinhos e os peluches mais bonitos transformavam-se nos Ken que não tivera. Nas minhas histórias eram sempre os peluches os monstros, transformados em belos príncipes pela Helena, Sofia, Raquel ou Beatriz, nome que dava às minhas Barbies. Na minha cabeça recriava a história da "Bela e do Monstro".
Nas gavetas e nas caixas escondiam-se os utensílios de cozinha. Tachos, panelas, pratos, garfos e uma serie de brinquedos saem do seu esconderijo para ganharem vida na peça que criava. Nas gavetas da sala procurava pequenos panos de decoração e da estante retirava os livros de capa dura: os primeiros seriam as cobertas das camas ou da mesa os segundos, as mesas.
Outras vezes, a cama era a sala de aula, Barbies e peluches os alunos, os velhos livros da primária tornavam-se grandes manuais para as pequenas Barbies e eu... eu era a professora, umas vezes dura outras vezes carinhosa.
Durante horas e horas eu era a principal encenadora, era eu que ditava os finais de cada personagem que criava. Como era bom ser menina...
Não tive muitas Barbies. Na verdade, creio que apenas tive duas. Limitava-me a sonhar.
A Barbie Bela Adormecida foi aquele que mais me marcou, talvez por ser a mais bonita ou porque ainda hoje a tenho. A ela destinara-lhe o meu nome e o final mais bonito. Todas tinham finais felizes, mas aquela era especial...
Todas as minhas bonecas duravam anos, quer fosse Barbies verdadeiras ou Barbies falsas, mais feias que as verdadeiras. Por todas tinha um carinho especial, tratava-as como objectos valiosos.
Quando já não tinha mais histórias para criar, passei o meu pequeno "tesouro" à minha irmã. Mas as histórias que ela criava tornaram-se diferentes, histórias que as minhas Barbies nunca tinham vivido. Elas tornavam-se "autênticas lutadoras", destruindo-se; ou melhor, destruindo-as a minha irmã. Ela era o oposto de mim (apesar de eu ser o seu modelo, o exemplo a seguir).
Aos 11 anos ainda brincava com elas. Aos 11 anos a minha irmã não lhes liga nada. Fui uma adolescente tardia, não me arrependo. Como era bom ser criança, passar horas a brincar, a sonhar a imaginar um futuro colorido.
Obrigada Barbie pelas horas de ilusões, cores, dessarumação, transformações e tantas outras coisas que eu fazia.
(a minha Bela Adormecida era bem mais bonita que esta! )
Gosto de olhar o mar. Gosto de me sentar na rocha ou na areia e de o observar, enquanto vaguei nos meus pensamentos. É incrível como ele nos transmite um conjunto variado de sentimentos e emoções.
Se por um lado ele nos transmite paz, esperança e sonhos, por outro ele é sinónimo de medo e respeito. Quando o observo, sentada na areia, admiro-lhe a grandeza e a força e todo o conjunto de sensações que em mim desperta.
Tenho o privilegio de morar junta ao rio e proximamente do mar. Quando me sinto em baixo, mesmo não estando junto dele, penso no mar e quando posso, caminho ao seu encontro. Chegada ao destino, penso nos medos que ele causa, no respeito, na admiração que sinto, na esperança que ele me transmite.
Quando era pequena e via o mar revolto, pensava que ele estava assim porque estava zangado com os homens. Hoje, quando assim no vejo, sinto a tristeza a desaparecer, dominada pela alegria expectativa de um futuro melhor. E mesmo quando o mar esta calmo, todos os meus males desaparecem...
Tranquilamente ou revoltoso, o mar faz-me esquecer, por algum tempo, o mundo de loucos em que vivo. Faz-me acreditar na magia dos sonhos, no poder da amizade, na segurança da família, num mundo melhor. É com ele que tomo as decisões mais importantes e é com ele que acredito no amor, na felicidade, na amizade, na alegria, na força. Diz-se que depois da tempestade, bem a bonança e é com ele que este velho ditado faz sentido: depois de um mar revolto, em que domina o medo, chega um mar calmo, tranquilo, trazendo esperança, alegria, paz...
É junto ao mar, e até mesmo junto ao meu rio, que encontro a paz que necessito. Mesmo estando longe dele, basta imaginá-lo na minha mente e contemplar-lhe as fotografias tiradas por mim ou encontradas neste mundo virtual, para tudo melhorar. Eis o motivo para o fundo escolhido...
À músicas que me tiram fora de mim...
João Pedro Pais tem uma música da qual fujo, não gosto, odeio... Gosto do cantor e da generalidade das músicas, mas daquela não! Fico deprimida, com a lágrima ao canto do olho.
Os meus colegas e amigos não percebem porque odeio-a tanto, porque não lhe posso ouvir o inicio! Custa-me escrever disto, falar seria mais doloroso...
Porque? Porque ele volta aos meus pensamentos, ele, o R..
O R. foi a minha primeira (e talvez, a única) grande paixão que tive até hoje. Sem pedir autorização, a amizade e a atracção misturaram-se e quando dei por isso estava apaixonada... Apaixonada por um colega de turma, demasiado cobiçado pelas meninas e que nunca irei olhar para a menina mais gordinha e feia da turma [e neste momento, as primeiras lágrimas correm-me pela face]... Vivia na mentira, sonhando inocentemente as histórias que via na televisão, nos inicios que imaginava de uma relação a dois. Queria, desejava, sonhava em que isso acontece-se! De facto, ele era só meu quando fechava os olhos, apenas quando os fechava...
Gostar dele teve coisas boas e más... Aprendi que sonhar demais e pensar que tudo é igual às novelas nos conduzem a uma vida de mentiras...
Nunca namorei, nunca beijei e eis uma das minhas maiores mágoas. Tenho medo da solidão, de não saber o que é ser amada e amar ou de não saber qual o "sabor" de um beijo. Queria que o primeiro fosse dele...
Sinto viver numa mentira... Digo que não quero saber de namorados ou rapazes, mas no fundo, quero, preciso, necessito... Já não sei mais o que quero!
Só não quero viver na ignorância, no medo, na solidão, na procura de alguem que não existe...
Fartei-me de ouvir que o meu "príncipe encantado" esta a caminho, ao virá da esquina, onde menos pensar! É tudo mentira...
Dizem que me devo "soltar" mais, falar mais, ser menos fechada, sair mais... Talvez.
Gostar do R. não foram só aprendizagem; gostar do R. significou tornar-me mais céptica em relação ao amor. Tornei-me mais fria, eu sei... Deixei de acreditar no amor para toda a vida, em "príncipes encantados", em "Romeus e Julietas"...
Porque não sou totalmente feliz? Porque não encontro alguém que ocupe o lugar da solidão? Porque fico sempre com a lágrima quando oiço aquela música? Porque estas contradições? Para que o amor? Para que sofrer? Será que sou assim tão feia ou timida que afasto quem quer que seja? Tantos "porques, serás e para que's" sem respostas!
Sinto-me uma egoísta... Aliás, sou uma egoísta! Há pais que choram os filhos desaparecidos à anos; pessoas que morrem à fome, ao frio, pela guerra... E eu? Eu choro por não saber o que é o amor!
No fundo, todos nós somos egoístas: queremos sempre mais do que já temos, quando muitos dariam tudo para ter metade do que nós temos...
"Mentira" é o nome da música [e termino sem mais lágrimas, creio que já as chorei todas em nome do amor; escrever faz-me bem!]...
Sinto-me triste... Sinto-me em baixo... Sinto vontade de chorar...
Pergunto-me porque, mas não encontro a resposta. Não raras as vezes sinto-me assim.
Talvez tenha sido da frase "quero um namorado!" ou da música que me fez lembrar aquela pessoa especial...
Sinto-me estúpida, cada vez mais estúpida e parva. Não encontro um motivo, uma causa, nem sei o que escrever neste post... Apenas sinto isso: vontade de chorar de fugir!
À semanas que ando a tentar lutar contra os meus medos: a solidão, a timidez, a vergonha... Parece que cheguei a uma fase da minha luta em que começo a perder as forças.
Pergunto-me, para que isto, porque mudar?!
A minha cabeça está uma verdadeira confusão (como este post)... Preciso de organizar as ideias, o que quero, traçar um objectivo...
Será que é assim tão complicado pedir para se ser feliz?!
Amanhã (talvez) escreva algo decente e claro...
. Barbie.
. Mar.
. Mentira.